Layout do blog

Risco Climático: A História Conturbada da Ponte Juscelino Kubitschek

por Juliana Gomes, da Redação • fev. 22, 2024


Conheça os desafios estruturais e as marcas das inundações que moldaram a trajetória da ponte em Rio Branco.  


Atualmente interditada, a imponente Ponte Metálica Juscelino Kubitschek, situada em Rio Branco, no estado do Acre, destaca-se como um dos principais ícones arquitetônicos da região. Inaugurada nos anos 70, a ponte recebeu o nome em homenagem ao ex-presidente Juscelino Kubitschek, reconhecido por suas relevantes contribuições para o progresso e modernização do Brasil. 

 

Com 230 metros de extensão, a Ponte Juscelino Kubitschek, também conhecida popularmente como Ponte Metálica ou Ponte Velha, cruza o Rio Acre, estabelecendo conexões vitais entre áreas-chave da cidade e facilitando a mobilidade de pessoas e bens.

A ESTRUTURA


Em conversa com a Pesquisadora do Instituto GeoLAB e Graduanda de Engenharia Civil pela Universidade Federal do Acre, Beatrice Mello, entendemos as questões técnicas por trás da estrutura da ponte, onde o concreto armado é um dos materiais protagonistas nesta construção. 

 

“O concreto armado é um material utilizado na construção civil, composto por concreto simples (cimento, água, agregados graúdos, brita, miúdo e areia), reforçado com armaduras metálicas, geralmente aço. Essas armaduras são inseridas na estrutura para proporcionar resistência à tração, enquanto o concreto fornece resistência à compressão. Essa combinação resulta em um material capaz de suportar cargas variadas, oferecendo durabilidade e versatilidade em aplicações estruturais, como no caso, aos pilares e tabuleiros da ponte”, explica Beatrice. 

 

Outro destaque da ponte é sua estrutura metálica, que se destaca pela engenharia arrojada e pela beleza estética que agrega à paisagem local. Beatrice acrescenta como funciona essa estrutura, juntamente da estrutura asfáltica, que também está presente no projeto. 

 

“Uma estrutura metálica é um sistema de suporte utilizado na construção civil, composto principalmente por elementos de aço ou outros metais. Esses elementos, como vigas, pilares e treliças, são projetados e fabricados para suportar cargas variadas, incluindo carga vertical, devido ao peso próprio e as cargas aplicadas, como vento e sobrecargas. Enquanto uma estrutura asfáltica é um tipo de pavimento utilizado em rodovias, ruas e estradas, composto por várias camadas de materiais, sendo a camada superior geralmente composta por asfalto ou betume”, acrescenta a Pesquisadora.


HISTÓRICO CONTURBADO


Como nem tudo são flores e nem toda teoria funciona perfeitamente na prática, a ponte tem um complicado histórico por conta de momentos caóticos que ocorreram desde a sua inauguração.



Em Fevereiro de 1963, se iniciou a construção da ponte durante o governo de José Augusto de Araújo. O momento não era um dos mais propícios para o início de uma obra, levando em consideração que naquele momento ocorria o Inverno Amazônico, período no qual chuvas, dias nublados e sensação térmica amena atingem a região, enquanto o resto do país enfrenta o auge do verão. Beatrice opina sobre este fato. 

 

“Não acho que isso tenha interferido significativamente mas creio que essa falta de conhecimento na época em relação ao momento ideal para se construir algo devido a sazonalidade e o começo da obra no período que, hoje em dia não se vê como indicado, influenciou para a falta de um melhor desempenho da estrutura, para o tempo de execução/duração da obra e também influenciou no desperdício de materiais, que provavelmente foi gerado devido a essa escolha”, opinou Beatrice.



Em 1971, a ponte foi inaugurada durante o mandato do governo de Wanderley Dantas. Não demorou muito até que os problemas surgissem, já que em 1978 a ponte ficou prejudicada com a queda de parte de um vão durante as cheias do Rio Acre. Para melhor compreensão, Beatrice explica tecnicamente como as cheias impactam na estrutura da ponte. 

 

“As preocupações são várias, desde os balseiros, onde esses, devido as colisões, afetam os pilares das pontes e precisam de obras de reforço periódicos, tendo em vista que não se tem nenhuma estrutura de proteção de pilares na ponte metálica, até o que na minha visão, é o nível ao qual a água do Rio Acre está chegando ultimamente, onde está começando a tocar no tabuleiro da ponte. Essa estrutura não foi projetada para resistir a esforços verticiais, logo esse efeito se torna algo muito perigoso para a estrutura”, destaca a engenheira. 



Naquele mesmo ano, a travessia no local tornou-se improvisada, com a instalação de uma ponte suspensa de madeira, sustentada por cabos, que oscilava conforme o deslocamento dos pedestres. A partir disso, a ponte foi apelidada de “Balança mais não cai” e “Baila Comigo”

 

A força do Rio Acre foi tão intensa que os trabalhos para recuperar o trecho arrastado, iniciados em Agosto de 1984, durante o governo de Nabor Júnior, levaram oito meses para serem concluídos. A ponte foi reinaugurada e liberada para o tráfego de veículos em Abril de 1985

 

O período de 2008 a 2010 foi marcado por obras de revitalização na ponte, que incluíram intervenções significativas na estrutura, fortalecendo-a e restaurando suas características originais da década de 1960 e trazendo também um sutil toque de contemporaneidade. 

 

INTERDIÇÃO RECENTE


Como a lista de problemas é extensa na história da ponte, eles não pararam em 2010 pois em Julho de 2023, a ponte que conecta o 1º e 2º Distrito de Rio Branco, foi interditada devido a questões estruturais que afetavam sua segurança por conta de uma série de cheias.



“Alguns dos problemas atuais foram os danos sofridos pela ponte devido a colisão de entulhos com a mesoestrutura (parte da ponte constituída pelos pilares, onde esse é o elemento que recebe os esforços da superestrutura e os transmite à infraestrutura) durantes as enchentes. Além disso, temos também a infiltração de água de chuva no tabuleiro (é a parte normalmente de concreto que recebe a pavimentação), ocasionando um processo de corrosão nas armaduras da laje, entre outros”, conclui Beatrice Mello. 




Beatrice nos conta que também foi apresentada a ocorrência de movimentação do tabuleiro, devido a enchente que promoveu empuxo lateral não considerado em projetos e também nos apoios, estrutura que liga a ponte em si com o terreno, no qual nunca foram trocados e estavam em estado crítico. 

 

Atualmente, a Ponte Metálica Juscelino Kubitschek segue em obra e tem previsão de ser finalizada ainda este ano. No momento, a obra se encontra 85% concluída

 

 

RESILIÊNCIA CLIMÁTICA


A resiliência climática é um dos temas abordados no Projeto GeoLAB | Horizon, onde já se encontra em desenvolvimento uma ferramenta de risco climático no qual traz consigo uma iniciativa inovadora que visa enfrentar os desafios climáticos únicos enfrentados pela região da Amazônia Sul-Ocidental.  

“O Horizon, além do sistema de alerta climáticos, tem como objetivo estabelecer projeções climáticas pra dar base para criação de estratégias de resiliência”, complementa Rene Flores, Gestor de Inovação do Instituto GeoLAB que está a frente do projeto. 

 

A Ponte Juscelino Kubitschek se encaixa perfeitamente neste assunto, onde a resiliência climática trata-se da capacidade de indivíduos, comunidades e sistemas naturais se adaptarem e se recuperarem diante das mudanças climáticas e de eventos extremos relacionados ao clima. A resiliência climática envolve também o desenvolvimento de estratégias e ações para enfrentar os desafios decorrentes das alterações no clima, como secas, inundações, tempestades e elevação do nível do mar. 

 

Este tema visa não apenas ajuda a mitigar os impactos das mudanças climáticas, mas também contribui para a construção de sociedades mais preparadas e adaptadas a um futuro com condições climáticas cada vez mais desafiadoras. É um tema que merece nossa atenção e engajamento contínuo. 



Acompanhe o Instituto GeoLAB nas Redes Sociais para ficar por dentro de tudo que acontece por aqui! 

 

Para mais informações sobre o Projeto Horizon, apoiado pelo CNPq Brasil, visite www.geoeconomico.org/horizon 

 

Agradecemos imensamente a colaboração de Beatrice Mello e Rene Flores para esta matéria. E lembrem-se: #SomosGeoLAB! 


Contato para a imprensa:

Por Juliana Gomes, da Redação 23 abr., 2024
Apresentando mapa elaborado pelo Prof. Dr. Cristovão Henrique, Ministra Simone Tebet eleva o diálogo sobre a importância da fronteira agrícola brasileira.
Por Juliana Gomes, da Redação 11 abr., 2024
Evento realizado no dia 05 de Abril contou com presença de cientistas e doutores.
Por Juliana Gomes, da Redação 19 mar., 2024
Como o fenômeno promete alterar o mapa climático brasileiro em 2024. 
Por Juliana Gomes, da Redação 07 mar., 2024
Na fronteira da geografia e economia, conheça mais sobre o nosso instituto! 
Veja mais
Share by: