Layout do blog

NOVAS REGRAS DE OURO DA ADAPTAÇÃO CLIMÁTICA

Cristovão Henrique • fev. 05, 2024

As soluções em torno de uma governança climática global avançam a passos lentos, conforme navegamos pelo tumultuado mar da geopolítica, sendo a "Regra de Ouro" 

 As soluções em torno de uma governança climática global avançam a passos lentos, conforme navegamos pelo tumultuado mar da geopolítica, sendo a "Regra de Ouro" um princípio crucial nesta travessia para uma economia descarbonizada. Ao refletir o princípio de que "quem tem o ouro faz as regras", observamos que, no cenário da crise climática como mostra o gráfico 1 Aumento das temperaturas globais (1860-2020), o "ouro" pode ser visto como a capacidade técnico-científica, domínio de recursos naturais e solvência financeira climática de cada nação em liderar e inovar frente a emergência climática que interfere no que tenho chamado em outros estudos de performance geoeconômica de cada país.


Isto é, a frase: "quem tem o ouro faz as regras" - parece adquirir novos contornos na política internacional do clima. Esta máxima, que tem suas raízes firmemente plantadas no tabuleiro do poder global, na riqueza e na dominação tática do território, apresenta-se com uma relevância renovada em face das mudanças climáticas e suas implicações geoeconômicas profundas, a cada evento extremo como tempestades, ciclones ou ondas de calor que já ceifou a vida de 2 milhões de pessoas e custou 3,64 trilhões de dólares em perdas totais como apontou o estudo da ONU (2021).


 Se pegarmos emprestado da sagacidade de 'The Wizard of Id’, de 1964, uma tirinha de quadrinhos, da figura 1, que satiriza a cultura e política modernas, observamos paralelos com a crise climática intrigantes. No reino fictício de "Id", o poder é centralizado, e a opressão é uma moeda corrente. Em uma teia de desigualdades e de uma governança climática questionável, o "Id" nos convida a refletir sobre as estruturas geoeconômicas de poder ao redor do planeta e o quão é difícil obter consensos ao longo de 27 conferências do clima já realizadas pela Organização das Nações Unidas.

  Hoje, o "ouro" pode ser visto como a riqueza verde - os recursos naturais, Créditos de Carbono, Créditos de Metano, tecnologias capazes de “descarbonizar” os processos produtivos e inovações no campo energético como hidrogênio verde que alavancam uma transição para uma economia de baixo carbono, sustentável e resiliente. Os detentores desse Green Gold "ouro verde" – portanto, as nações, instituições públicas e privadas, empresas da área da inovação e bioeconomia - estão, de fato, em uma posição para moldar regras de ouro, direcionando políticas e influenciando o curso da geoeconomia global. Tentando assim, colocar em prática o que ficou estabelecido no Mecanismo Internacional de Varsóvia para Perdas e Danos para os países mais pobres e que serão mais afetados com as mudanças climáticas.

 

É evidente que as mudanças climáticas transcendem a crise ambiental, atuando como uma força potente que está remodelando o cenário geoeconômico global. Este ano, o mundo presenciou uma série de alertas naturais evidenciando que o aquecimento global é uma realidade incontestável[1] como mostra o gráfico 2. A ocorrência frequente de tempestades frequentes, ciclones, elevação do nível do mar, ondas de calor e secas severas, exemplificadas pela situação no Rio Amazonas - a maior fonte de água doce do mundo - sinalizam a alvorada de uma nova era para a humanidade.


Para somar no caldo, as instabilidades geopolíticas pós-COVID-19 como a guerra da Ucrânia, em 2022, nos mostrou que não sairíamos da maior crise sanitária global melhores do que entramos. Complicando ainda mais o contexto global, a recente instabilidade no Oriente Médio, ocorrida em 7 de outubro, adicionou um elemento de complexidade às negociações diplomáticas na ONU.

 A ONU, que tem uma conferência agendada para o final deste mês em Dubai, Emirados Árabes Unidos, realizará a 28ª Conferência das Partes (COP 28). Este evento surge como um marco estratégico, essencial para o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C. A COP 28 marca o início de uma fase crucial que se estenderá até a COP 30, prevista para ocorrer no Brasil em 2025.


Esta série de conferências, organizada pela Organização das Nações Unidas, focará nas estratégias e compromissos globais para combater as mudanças climáticas, conforme delineado nos relatórios do IPCC. Elas enfatizam a urgência de avanços significativos e rápidos a partir de 2023, apesar de um contexto global e geopolítico repleto de instabilidades, como as observadas no Leste Europeu e no persistente conflito entre Israel e Hamas.

 

Durante a COP28 deverá ser concluir o primeiro "Global Stocktake" (Balanço Global) do Acordo de Paris. Este processo de revisão, com seu primeiro ciclo concluído em 2023, será reiterado a cada cinco anos, estabelecendo um mecanismo recorrente de avaliação e reforço dos compromissos e ações globais. A essência deste balanço está centrada na avaliação coletiva da performance geoeconômica dos países participantes nos esforços de mitigação e adaptação às mudanças, bem como acesso a financiamento climático pelos mais pobres e transferência de ciência, tecnologia e inovação para o cenário climático adaptado menos apocalíptico que pode chegar US$ 1,8 trilhão só nos países desenvolvidos que, hoje, fazem “as regras de ouro” como apontou o estudo de Markandya; González-Eguino (2019).


 Entre a COP28 e a COP30, é importe que sistema inaugurado pelo Acordo de Paris não apenas sobreviva aos solavancos da geopolítica para ganhar performance geoeconômica climática, superando as probabilidades em um terreno político intrincado e desarticulado. As Conferências das Partes (COPs) emergem assim como um dos derradeiros esforços humanitários na tentativa de preservarmos nossa existência enquanto humanidade, salvando nossa pele. Deixando assim, a tarefa de salvar o planeta Terra, apenas para figuras fictícias, como o Capitão Planeta.


     Por fim, a "Regra de Ouro" ressurge como uma diretriz de performance geoeconômica vital, capaz de despertar em nações, lugares, instituições uma resposta global com bases regionais mais firmes capaz de liderar com audácia e visão a transição para uma economia de baixo carbono, mobilizando recursos naturais, reparando as desigualdades consolidadas, com inovação tecnológica para garantir um futuro sustentável ao menos para a próxima geração de seres humanos.

 

 [1] Para ver como as médias de temperaturas se comportaram ao longo de 1900-2022 na sua cidade, Estado ou país clique aqui - https://bit.ly/459vZlO 


REFERÊNCIAS


IPCC, 2022: Summary for Policymakers. In: Climate Change 2022: Mitigation of Climate Change. Contribution of Working Group III to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [P.R. Shukla, J. Skea, R. Slade, A. Al Khourdajie, R. van Diemen, D. McCollum, M. Pathak, S. Some, P. Vyas, R. Fradera, M. Belkacemi, A. Hasija, G. Lisboa, S. Luz, J. Malley, (eds.)]. Cambridge University Press, Cambridge, UK and New York, NY, USA. doi: 10.1017/9781009157926.001. Disponivel em: https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg3/downloads/report/IPCC_AR6_WGIII_SummaryForPolicymakers.pdf

IPCC – 2023 - https://bit.ly/3t3w1yi 
RIBEIRO SILVA, et. al.. .PERFORMANCE GEOECONÔMICA DE SUB-REGIÕES NA AMÉRICA DO SUL: ELEMENTOS PARA UMA NOVA REGIONALIZAÇÃO. Revista Tempo Do Mundo, (27), 2022. 247-272.
https://doi.org/10.38116/rtm27art9

Markandya, A., González-Eguino, M. (2019). Integrated Assessment for Identifying Climate Finance Needs for Loss and Damage: A Critical Review. In: Mechler, R., Bouwer, L., Schinko, T., Surminski, S., Linnerooth-Bayer, J. (eds) Loss and Damage from Climate Change. Climate Risk Management, Policy and Governance. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-319-72026-5_14



Por Juliana Gomes, da Redação 10 mai., 2024
Conheça o projeto que combina inovação, educação e conscientização para proteger a maior floresta tropical do mundo.
Por Juliana Gomes, da Redação 23 abr., 2024
Apresentando mapa elaborado pelo Prof. Dr. Cristovão Henrique, Ministra Simone Tebet eleva o diálogo sobre a importância da fronteira agrícola brasileira.
Por Juliana Gomes, da Redação 11 abr., 2024
Evento realizado no dia 05 de Abril contou com presença de cientistas e doutores.
Por Juliana Gomes, da Redação 19 mar., 2024
Como o fenômeno promete alterar o mapa climático brasileiro em 2024. 
Veja mais
Share by: